22 de novembro de 2010

Eucaristia bem celebrada é a melhor catequese eucarística segundo o Papa

A Santa Missa, celebrada no respeito das normas litúrgicas e com uma adequada valorização da riqueza dos sinais e dos gestos, favorece e promove o crescimento da fé eucarística. Na celebração eucarística nós não inventamos algo, mas entramos numa realidade que nos precede, aliás que abraça céu e terra e portanto também passado, futuro e presente. Esta abertura universal, este encontro com todos os filhos e filhas de Deus é a grandeza da Eucaristia: vamos ao encontro da realidade de Deus presente no corpo e sangue do Ressuscitado entre nós. Por conseguinte, as prescrições litúrgicas ditadas pela Igreja não são coisas exteriores, mas exprimem concretamente esta realidade da revelação do corpo e sangue de Cristo e assim a oração revela a fé segundo o antigo princípio lex orando lex credendi. E por isso podemos dizer que "a melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada" (Bento XVI, Exort. Ap. pós-sinodal Sacramentum caritatis, 64). É necessário que na liturgia sobressaia com clareza a dimensão transcendente, a do Mistério, do encontro com o Divino, que ilumina e eleva também a "horizontal", ou seja, o vínculo de comunhão e de solidariedade que existe entre quantos pertencem à Igreja. De facto, quando prevalece esta última não se compreende plenamente a beleza, a profundidade e a importância do mistério celebrado. Queridos irmãos no sacerdócio, a vós o Bispo confiou, no dia da Ordenação sacerdotal, a tarefa de presidir à Eucaristia. Tende sempre a preocupação pela prática desta missão: celebrar os divinos mistérios com intensa participação interior, para que os homens e as mulheres da nossa Cidade possam ser santificados, postos em contacto com Deus, verdade absoluta e amor eterno.
E tenhamos presente também que a Eucaristia, ligada à cruz, à ressurreição do Senhor, ditou uma nova estrutura ao nosso tempo. O Ressuscitado manifestou-se no dia depois do sábado, o primeiro dia da semana, dia do sol e da criação. Desde o início os cristãos celebraram o seu encontro com o Ressuscitado, a Eucaristia, neste primeiro dia, neste novo dia do verdadeiro sol da história, Cristo Ressuscitado. E assim o tempo começa sempre de novo com o encontro com o Ressuscitado e este encontro dá conteúdo e força à vida de cada dia. Por isso é muito importante para nós cristãos, seguir este ritmo novo do tempo, encontrar-nos com o ressuscitado no domingo e assim "levar" connosco esta sua presença, que nos transforme e transforme o nosso tempo. Além disso, convido todos a redescobrir a fecundidade da adoração eucarística: diante do Santíssimo Sacramento experimentamos de modo muito particular aquele "permanecer" de Jesus, que Ele mesmo, no Evangelho de João, põe como condição necessária para dar muito fruto (cf. Jo 15, 5) e evitar que a nossa acção apostólica se reduza a um estéril activismo, mas seja ao contrário testemunho do amor de Deus.

13 de novembro de 2010

Papa Bento XVI - Sacerdote e o Munus Docendi

 
 
PAPA BENTO XVI 

AUDIÊNCIA GERAL
Praça de São Pedro
Quarta-feira, 14 de Abril de 2010

Munus docendi
Queridos amigos!
Neste período pascal, que nos guia ao Pentecostes e nos prepara também para as celebrações de encerramento do Ano sacerdotal, que terão lugar nos dias 9, 10 e 11 de Junho próximo, apraz-me dedicar ainda algumas reflexões ao tema do Ministério ordenado, detendo-me sobre a realidade fecunda da configuração do sacerdote com Cristo Cabeça, no exercício dos tria munera que recebe, isto é, dos três ofícios de ensinar, santificar e governar.
Para entender o que significa agir in persona Christi Capitis – na pessoa de Cristo Cabeça por parte do sacerdote, e para compreender inclusive quais consequências derivam da tarefa de representar o Senhor, especialmente no exercício destes três ofícios, antes de tudo é preciso esclarecer o que se entende por "representação". O sacerdote representa Cristo. O que quer dizer, o que significa "representar" alguém? Na linguagem comum, quer dizer geralmente receber uma delegação de uma pessoa para estar presente no seu lugar, falar e agir no seu lugar, porque quem é representado está ausente da acção concreta. Perguntamo-nos: o sacerdote representa o Senhor do mesmo modo? A resposta é não, porque na Igreja Cristo nunca está ausente, a Igreja é o seu corpo vivo e a Cabeça da Igreja é Ele, presente e em acção nela. Cristo nunca está ausente, aliás está presente de um modo totalmente livre dos limites de espaço e tempo, graças ao evento da Ressurreição, que contemplamos de maneira especial neste período de Páscoa.
Portanto, o sacerdote que age in persona Christi Capitis e em representação do Senhor, nunca age em nome de um ausente, mas na própria Pessoa de Cristo Ressuscitado, que se torna presente com a sua acção realmente eficaz. Age de facto e realiza o que o sacerdote não poderia fazer: a consagração do vinho e do pão para que sejam realmente presença do Senhor, a absolvição dos pecados. O Senhor torna presente a sua própria acção na pessoa que realiza tais gestos. Estas três tarefas do sacerdote que a Tradição identificou nas diversas palavras de missão do Senhor: ensinar, santificar e governar na sua distinção e profunda unidade são uma especificação desta representação eficaz. São na verdade as três acções do Cristo Ressuscitado, o mesmo que hoje na Igreja e no mundo ensina e assim cria fé, reúne o seu povo, cria presença da verdade e constrói realmente a comunhão da Igreja universal; e santifica e guia.
A primeira tarefa sobre a qual gostaria de falar hoje é o munus docendi, isto é, ensinar. Hoje, em plena emergência educativa, o munus docendi da Igreja, exercido concretamente através do ministério de cada sacerdote, resulta particularmente importante. Vivemos numa grande confusão acerca das escolhas fundamentais da nossa vida e das interrogações sobre o que é o mundo, de onde vimos, para onde vamos, o que devemos fazer para fazer o bem, como devemos viver, quais são os valores realmente pertinentes. Em relação a tudo isto existem muitas filosofias contrastantes, que nascem e desaparecem, criando confusão sobre as decisões fundamentais, como viver, porque já não sabemos, comummente, do que e para que somos feitos e para onde vamos. Nesta situação realiza-se a palavra do Senhor, que teve compaixão da multidão porque eram como ovelhas sem pastor (cf. Mc 6, 34). O Senhor tinha feito esta constatação quando viu os milhares de pessoas que o seguiam no deserto porque, na diversidade das correntes daquele tempo, já não sabiam qual fosse o verdadeiro sentido da Escritura, o que dizia Deus. O Senhor, movido pela compaixão, interpretou a palavra de Deus, ele mesmo é a palavra de Deus, e assim deu uma orientação. Esta é a função in persona Christi do sacerdote: tornar presente, na confusão e na desorientação dos nossos tempos, a luz da palavra de Deus, a luz que é o próprio Cristo neste nosso mundo. Por conseguinte, o sacerdote não ensina as próprias ideias, uma filosofia que ele mesmo inventou, encontrou ou que gosta; o sacerdote não fala de si mesmo, não fala por si mesmo, talvez para criar admiradores ou um partido próprio; não diz coisas próprias, invenções suas mas, na confusão de todas as filosofias, o sacerdote ensina em nome de Cristo presente, propõe a verdade que é o próprio Cristo, a sua palavra, o seu modo de viver e de ir em frente. Para o sacerdote vale o que Cristo disse sobre si mesmo: "A minha doutrina não é minha" (Jo 7, 16); isto é, Cristo não se propõe a si mesmo, mas, como Filho, é a voz, a palavra do Pai. Também o sacerdote deve sempre dizer e agir assim: "a minha doutrina não é minha, não difundo as minhas ideias ou o que me agrada, mas são boca e coração de Cristo e torno presente esta única e comum doutrina, que criou a Igreja universal e que cria vida eterna".
Este facto, que o sacerdote não inventa, não cria e não proclama ideias próprias porque a doutrina que anuncia não é sua, mas de Cristo, por outro lado, não significa que ele seja neutro, quase como um porta-voz que lê um texto do qual, talvez, nem se apropria. Também neste caso, vale o modelo de Cristo, que disse: Eu não sou para mim e não vivo para mim, mas venho do Pai e vivo para o Pai. Portanto, nesta identificação profunda, a doutrina de Cristo é a do Pai e Ele mesmo é um só com o Pai. O sacerdote que anuncia a palavra de Cristo, a fé da Igreja e não as próprias ideias, deve dizer também: Eu não vivo por mim e para mim, mas vivo com Cristo e para Cristo e portanto tudo aquilo que Cristo nos disse torna-se a minha palavra não obstante não seja minha. A vida do sacerdote deve identificar-se com Cristo e, deste modo, a palavra não própria torna-se, contudo, uma palavra profundamente pessoal. Santo Agostinho, sobre este tema, falando acerca dos sacerdotes, disse: "E nós o que somos? Ministros (de Cristo), seus servidores; porque o que distribuímos a vós não é nosso, mas tiramo-lo da sua despensa. E inclusive nós vivemos dela, porque somos servos como vós" (Discurso 229/e, 4).
O ensinamento que o sacerdote é chamado a oferecer, as verdades da fé, devem ser interiorizadas e vividas num intenso caminho espiritual pessoal, de forma que realmente o sacerdote entre numa profunda, interior comunhão com o próprio Cristo. O sacerdote crê, acolhe e procura viver, antes de tudo como próprio, quanto o Senhor ensinou e a Igreja transmitiu, naquele percurso de identificação com o próprio ministério do qual São João Maria Vianney é testemunha exemplar (cf. Carta para a proclamação do Ano sacerdotal). "Unidos na mesma caridade afirma ainda Santo Agostinho todos somos auditores daquele que é para nós no céu o único Mestre" (Enarr. in Ps. 131, 1, 7).
Por conseguinte, com frequência a voz do sacerdote poderia parecer "a de um que grita no deserto" (Mc 1, 3), mas exactamente nisto consiste a sua força profética: em nunca ser homologado, nem homologável, a alguma cultura ou mentalidade dominante, mas em mostrar a única novidade capaz de produzir uma autêntica e profunda renovação do homem, ou seja, que Cristo é o Vivente, é o Deus próximo, o Deus que age na vida e para a vida do mundo e nos doa a verdade, o modo de viver.
Na preparação atenta da pregação festiva, sem excluir a dos dias úteis, no esforço de formação catequética, nas escolas, nas instituições académicas e, de modo especial, através daquele livro não escrito que é a própria vida, o sacerdote é sempre "professor", ensina. Mas não com a presunção de quem impõe as próprias verdades, mas com a humilde e jubilosa certeza de quem encontrou a Verdade, foi capturado e transformado por ela, e por conseguinte não pode deixar de a anunciar. Com efeito, ninguém pode escolher o sacerdócio por si mesmo, não é um modo para alcançar a segurança na vida, para conquistar uma posição social: ninguém pode obtê-lo nem procurá-lo sozinho. O sacerdócio é resposta ao chamamento do Senhor, à sua vontade, para se tornar anunciadores não de uma verdade pessoal, mas da sua verdade.
Queridos irmãos sacerdotes, o Povo cristão pede para escutar dos nossos mestres a genuína doutrina eclesial, através da qual se possa renovar o encontro com Cristo que doa a alegria, a paz e a salvação. A Sagrada Escritura, os escritos dos Padres e dos Doutores da Igreja e o Catecismo da Igreja Católica constituem, a este propósito, pontos de referência imprescindíveis no exercício do munus docendi, tão essencial para a conversão, o caminho de fé e a salvação dos homens. "Ordenação sacerdotal significa: estar imersos (...) na Verdade" (Homilia da Missa Crismal, 9 de Abril de 2009), aquela Verdade que não é simplesmente um conceito ou um conjunto de ideias a transmitir e assimilar, mas que é a Pessoa de Cristo, com a qual, pela qual e na qual viver e assim, necessariamente, nasce também a actualidade e a compreensão do anúncio. Só esta consciência de uma Verdade feita Pessoa na Encarnação do Filho justifica o mandato missionário: "Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a humanidade" (Mc 15, 16). Só se se trata da Verdade ela está destinada a toda a humanidade, não é uma imposição de algo, mas a abertura do coração àquilo pelo qual se foi criado.
Queridos irmãos e irmãs, o Senhor confiou aos Sacerdotes uma grande tarefa: ser anunciadores da Sua Palavra, da Verdade que salva; ser a sua voz no mundo para levar aquilo que beneficia o bem verdadeiro das almas e o autêntico caminho de fé (cf. 1 Cor 6, 12). São João Maria Vianney seja exemplo para todos os Sacerdotes. Ele era homem de grande sabedoria e heróica força ao resistir às pressões culturais e sociais do seu tempo para poder guiar as almas para Deus: simplicidade, fidelidade e proximidade eram as características essenciais da sua pregação, transparência da sua fé e da sua santidade. O Povo cristão era edificado e, como acontece para os autênticos mestres de todos os tempos, reconhecia nele a luz da Verdade. Em definitiva, reconhecia nele o que se deveria reconhecer sempre num sacerdote: a voz do Bom Pastor. 
fonte:  http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20100414_po.html